sábado, 31 de julho de 2010

Promenade

Os olhos no mar que curva
O horizonte débil.
A mão na areia fina,
Uma mão de areia -
Minha mão de areia queima;
Este mar arde.
Deixei as mão na areia
Sob o peso da praia -
Não há grão que possa erguer
Ou que não me atraia!
Quero neles tocar a profundeza
Da hora da eternidade.
O marulho é um sussurro doce
Em espirais...
Que vetustos versos recitas,
Ó Deus Pulverizado?


terça-feira, 27 de julho de 2010

Para Aliviar os Fardos


"Se o senhor se ativer à natureza, ao que há de mais simples nela, às pequenas coisas que quase não vemos e que, de maneira imprevista, podem se tornar grandes e incomensuráveis; se o senhor tiver esse amor pelo ínfimo e procurar com toda simplicidade conquistar como um servidor a confiança do que parece pobre - então tudo se tornará mais fácil, pleno e de algum modo reconciliador para o senhor, talvez não no campo do entendimento, que fica para trás, espantadado, mas em sua consciência mais íntima, no campo da vigília e do saber. O senhor é tão jovem, tem diante de si todo começo, e eu gostaria de lhe pedir da melhor maneira que posso, meu caro, para ter paciência em relação a tudo que não está resolvido em seu coração. Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em uma língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. E é disto que se trata, de viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, a viver as respostas. Talvez o senhor traga consigo a possibilidade de construir e formar, como um modo de viver especialmente afortunado e puro; eduque-se para isso. Mas aceite com grande confiança o que vier, e se vier apenas da sua vontade, se for proveniente de qualquer necessidade de seu íntimo, aceite-o e não o odeie. A carne é um fardo, verdade. Mas é difícil a nossa incumbência, quase tudo o que é sério é difícil, e tudo é sério. Se o senhor chegar a reconhecer apenas isso e chegar a conquistar, a partir de si, de sua disposição e de seu modo de ser, de sua experiência e infância e força, uma relação inteiramente própria (não dominada pela convenção e pelo hábito) com a carne, então o senhor não precisa mais ter receio de se perder e de ser indigno de sua melhor posse"

Rainer Maria Rilke

A Lenta Flecha da Beleza

"A mais nobre espécie de beleza é aquela que não arrebata de vez, que não se vale de assaltos tempestuosos e embriagantes (uma beleza assim desperta facilmente o nojo), mas que lentamente se inflitra, que levamos conosco quase sem perceber e deparamos novamente num sonho, e que afinal, após ter longamente ocupado um lugar modesto em nosso coração, se apodera completamente de nós, enchendo-nos os olhos de lágrimas e o coração de ânsias."
Friedrich Nietzsche; Humano, Demasiado Humano

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Hino

Lamenta-te a terra, Divindade Morta!
Tanto pranto, tanto canto na espera -
É a hora das Rapsódias do Silêncio!
Vê! Germinam as Raízes que te abraçam
porém as raízes antigas já são outras...
tempo de nascer da seiva o animal,
pois os leões cantam já a luz d'aurora -
Há cor nascente nos pilares de ar...
Tua vida corusca divindade morta!
Pois a Morte é Catequese da Vida -
e todo teu corpo é tamborilar!


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Posso lhe Entregar Mais?

"Nada posso lhe oferecer que não esteja em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo além daquele que há em sua própria alma. Nada posso lhe dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo."

Hermann Hesse

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um Éden Memorável

Os poetas da antiguidade animaram todos os objetos sensíveis com Deuses ou Gênios, nomeando-os e adornando-os com as propriedades dos bosques, lagos, cidades, nações e tudo o que seus dilatados sentidos podiam perceber.
Particularmente, estudaram o gênio de cada cidade e país, colocando-o sob a égide de sua deidade mental.
Até que se formou um sistema, do qual alguns se aproveitaram e escravizaram o vulgo, interpretando e abstraindo as deidades mentais de seus respectivos objetos. Então surgiu o clero.
Elegendo formas de culto dos mitos poéticos.
E proclamando, por fim, que assim haviam ordenado os Deuses.
Os homens então esqueceram que Todas as deidades residem em seus corações.
William Blake

sábado, 15 de maio de 2010

Uma máxima (leia-se: uma manifestação de vaidade)

Liberdade: a ignorância que temos da distância até os muros de nossa vida.